A Idéia

Graças à correria da vida moderna, aliada à ingerência e engessamento do Poder Público, todos sofremos diariamente do stress de nos ver engarrafados no trânsito. Alguns xingam, outros exasperam mas eu decidi fazer desse momento algo proveitoso.

Fã incondicional de música e colecionador de discos cada vez mais difíceis de ser ouvidos, já que não me sobra muito tempo para tanto, resolvi que poderia desfrutá-los durante os incontáveis engarrafamentos que afligem cidade onde moro.

Assim comprei um iPod de 160 GB, coloquei todos os meus discos ali dentro, investi numa boa aparelhagem de som automotivo - mas nada parecido com essas “carrotecas” que se vê (e ouve) por aí: um bom player, dois excelentes falantes nas portas dianteiras (para criar um melhor palco sonoro) e um modesto amplificador mono para empurrar um subwoofer no porta malas. Pronto. Ali estava minha sala de som móvel.

Passei, então, a curtir os engarrafamentos, por mais paradoxal que isso possa parecer. Vindo do fórum, o trânsito engarrafou, escolho um disco e tento ouvi-lo inteiro, num volume generoso. Ali no meu mundinho móvel, ouço som em silêncio sepulcral, canto, treino as segundas vozes, toco bateria no volante, enfim, curto música do jeito que gosto. Infelizmente não dá pra tocar guitarra, mas aí já seria demais. Vez por outra pego um ou outro motorista me olhando como que se pensando: “esse engravatado está ficando doido…”, o que aumenta ainda mais a curtição.

Falando sobre isso com um grande amigo (VALEU, MICHEL MAGNO !!!), o mesmo me deu a idéia de lançar um blog, onde eu pudesse fazer resenhas de alguns álbuns que eu tivesse ouvido no carro. Gostei da proposta e depois de ruminá-la bastante, aqui estou eu, pela primeira vez em público, expondo minhas modestas considerações sobre discos que realmente gosto.

E torcendo pra um dia o trânsito engarrafar bastante para que possa ouvir alguns álbuns duplos…

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Jeff Buckley – Grace

 

Dia de trabalho cheio, ainda tenho uma reunião com um cliente às 19:00h, em Jardim Camburi.

Após pegar os meninos na escola e deixá-los em casa, tenho um grande engarrafamento até o destino final. Na cabeça vem o riff de Grace, música do álbum homônimo (e único) do Jeff Buckley. Giro o spinning wheel do iPod, escolho o disco e começa “Mojo Pin”.

Não sei quem me deu a dica desse disco, mas ele passou batido por mim até 2007. Daí pra frente, foi para a prateleira dos meus grandes álbuns de todos os tempos.

Com uma sonoridade rocker bem setentista, o álbum mescla baladas e rocks em excelentes arranjos e com uma performance vocal maravilhosa desse artista que tão cedo se foi, deixando oficialmente este disco como seu único legado.

Ponte de Camburi. Tudo travado e começa “Last Goodbye”. Pra quem é fã de Led Zeppelin (como eu), esta música bate forte. A melodia é lindíssima e o arranjo das cordas me remete aos climas marroquinos que permeavam algumas canções do Zep. Terminada a música, me dou conta de que andei cerca de 0,5 km sem nem notar…

Logo depois, Lilac Wine. Um bálsamo… Não conheço a versão original desta composição do James Shelton, mas acho que nem preciso. A do JB já me enche a alma de “joyness”. Ah, o Jeff Beck também fez uma versão dessa música em seu álbum “Emotion & Comotion” que também vale a pena conhecer. Detalhe: acredito que este último Jeff (o guitarrista) estava ouvindo muito o seu xará Buckley quando gravou esse disco, pois também incluiu nele “Corpus Christi Carol”, a qual faz parte de Grace. Ou teria sido apenas uma belíssima coincidência?

Chegando ao destino, vai terminando “So Real” e não sei se desligo o player ou se deixo vir a próxima. Olho no relógio, ainda restam bem poucos minutos para a hora marcada e resolvo ouvir “Hallelujah”. HINO !!! HINO !!! Putz !!! Que som de guitarra, que voz, que interpretação !!! Pra mim, é a versão definitiva desta composição do Leonard Cohen. Se fosse possível, eu baixava um decreto proibindo qualquer outra regravação da mesma. Fim da música, alma lavada, vou leve para a reunião.

No retorno pra casa, trânsito bem tranquilo, não deu pra ouvir o disco todo mas terminei com “Corpus Christi Carol”, que, com sua leveza, foi o bastante para deixar a mente calma, pronta para dormir de forma serena.